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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A sabedoria popular - 1954 - Edison Carneiro

Vamos visitar um camarada nosso, de outra postagem. Edison Carneiro, que conhecemos quando tempos atrás pesquisávamos sobre berimbau: B E R I M B A U - Edison Carneiro. Mas temos que confessar, falando do Sr. Carneiro, a postagem anterior foi muito simples. O autor desta obra, e de muitas outras, merece algo melhor elaborado. Por isso, aqui, procuramos melhor representar esse autor. Intelectual Baiano que atuou como escritor voltado para ações e políticas  culturais afirmações da população negra no Brasil, durante o século XX.

O autor: Nascido em Salvador, Edison de Souza Carneiro formou-se em direito (Faculdade de Direito da Bahia, em 1935), mas se destacou como pesquisador da cultura popular e se envolveu nos movimentos que procuraram conhecer e valorizar o folclore brasileiro. Dedicou-se a estudos de temas afro-brasileiros, tornando-se maior autoridade nacional sobre os cultos de origem africanas e dos problemas de aculturação dos povos africanos no Brasil. 

Logo após ter se formado em direito, participou do grupo literário junto com Jorge Amado da Academia dos Rebeldes. Depois de 1933, Edison iniciou seus estudos sobre a cultura brasileira de matriz africana e em 1937 fundou, a federação das casas de candomblé baianas (União das Seitas Afro-Brasileiras da Bahia) e organizou o II Congresso Afro-Brasileiro. Neste evento, que contou com a participação de muitos intelectuais da época do movimento negro ou não, inaugurou um rumo para o estudo da cultura africana-brasileira. 
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1939 e atuou como jornalista, sempre vinculado a questões sobre a brasilidade. Vinte anos depois, em 1959, trabalhou como professor no ensino de Bibliografia do Folclore no curso te Biblioteconomia da Biblioteca Nacional, e mais tarde atuou também em várias universidades brasileiras. Mais tarde ainda, em 1969, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras e também foi condecorado com duas vezes, a primeira com a Medalha Silvio Romero pelo Governo da Guanabara, e a segunda com a Medalha Euclides da Cunha, pela cidade de São José do Rio Preto. Na década de 70, concretizou a criação do Instituto Nacional do Folclore. 
Durante sua vida escreveu várias obras sobre o folclore brasileiro, principalmente em temas voltados a história das populações negras e da valorização de suas culturas, configurando-se num grande intelectual sobre o assunto. Veio a falecer em dezembro de 1972.

O capítulo da Obra: CAPOEIRA DE ANGOLA

Nesta obra, A sabedoria popular, Edison Carneiro abordou temas ligados a presença negra na cultura brasileira como a escola de samba, samba-de-roda, bumba-meu-boi, entre outras manifestações oriundas do Recôncavo da Bahia. Aqui nos interessa o capítulo sobre a Capoeira de Angola. Então, vamos a ele.
Para nosso outor, a capoeira seria uma vadiação, onde os jogadores "se divertem, fingindo lutar". Lembra que nem sempre foi assim, dando a entender que os capoeiras eram algum tipo de problema para o poder público, pois no século XIX os capoeiras foram enviados para a guerra do Paraguai. Ou ainda, cita Manuel Quirino, para mencionar do Besouro Magangá.
Segue levantando em nove (9) as "modalidades" de jogos da capoeira e afirma que capoeira angola e angolinha são variações da mesma coisa, que São Bento Grande, São Bento Pequeno por um lado e Jogo de Dentro, Jogo de Fora, por outro são a mesma coisa. Se diferenciando principalmente pela forma de se tocar o berimbau.
Dito isso, convida o leitor a estudar a capoeira angola. Descreve a forma como se dá o início do jogo mencionando a formação da bateria (ou orquestra na suas palavras) e do comportamento dos jogadores ante ao primeiro canto, momento nomeado pelo auto de preceito, que sempre terminaria com a "vorta ao mundo". Para ele, o sinal para o início do jogo. 
Iniciado o jogo, Carneiro menciona alguns movimentos da capoeira. Sendo que as pernas seriam as mais requisitas para a vadiação, e que as mão serviriam mais pra equilibrar o corpo ou serem usadas para dar um golpe no pescoço (tronco) ou ainda, para o dedo no olho. Por fim, cita semelhanças de canções conhecidas na capoeira com canções cantadas nos candomblés de caboclo, e a proximidade das cantigas de capoeira com as cantigas populares. Encera seu texto listando lugares onde a capoeira de angola era jogada na Bahia e seus destacados jogadores: o pescador Samuel Querido de Deus, o estivador Maré, Siri de Mangue… entre outros.

Visite abaixo o trecho da obra que selecionamos para este post, e não deixe de nós enviar um comentário:








quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Workshop com Mestre Colette do Semente do Jogo de Angola em Ottawa - Canadá

Mestre Colette estará em Ottawa/Canadá no domingo dia 26 de outubro de 2014 para ministrar um workshop especial sobre Capoeira Angola.

Venha aprender a arte e a ciência de uma excelente professora e uma voz dedicada a Capoeira Angola dentro da tradição de Mestre Pastinha, da forma como foi passada para o Mestre Jogo Pequeno, e depois adiante, para o Mestre Jogo de Dentro, o Mestre e a referencia de Mestre Colette.




Venha vadiar e conhecer a força da Capoeira Angola no Canadá!

Domingo, 26 de outubro às 14:00 - 17:00.
JACK PURCELL Community Centre
320 Jack Purcell Lane, Ottawa K2P 2J5


Para maiores informações consulte a página do evento:
Workshop com Mestre Colette

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Vista da rua principal do Rio de Janeiro - 1817 - Thomas Ender

Concomitantemente aos preparativos para o casamento entre a austríaca arquiduquesa Leopoldina e o herdeiro do Império português D. Pedro I, no ano de 1817, foi organizada na Austria uma expedição naturalista com o objetivo de estudar e descobrir riquezas e potencialidades do Brasil, considerado a região mais rica do hemisfério Sul. Deveriam ser catalogados e registrados a maior quantidade possível de espécies da flora e da fauna, além é claro, dos tipo humanos (negros, brancos, índios, orientais, …). Entre importantes naturalistas que vieram nesta expedição ao Brasil entre 1817 e 1818, estava o jovem pintor Thomas Ender.

O Artista: Filho de comerciantes pobres, Thomas Ender nasceu em Viena em 3 de novembro de 1793, iniciou sua vida de pintor aos 12 anos. Ingressou, portanto, em 1805 na Academia de Artes Sant'Anna na Áustria e logo depois, se tornou um paisagista, em que os recantos de Viena foram explorados por ele. Pintou também, entre 1810 e 1816, as montanhas de Salzburg, Stelemark, e as fronteiras da região do Tirol. Desse momento, retratou a floresta do Prater: "Excursão na floresta com vista para a distância" e com ele, ganhou em 1817, além do prêmio em um concurso, a proteção e admiração do primeiro ministro do Reino da Áustria e da Baviera, o príncipe de Matternich.
Esse contato colaborou no processo de escolha da expedição austríaca para o Brasil em decorrência do casamento de D. Leopoldina com D. Pedro I. Assim, acompanhou a missão cientifica junto com Johann Baptiste Von Spix e Carl Friedrich von Martius ao Brasil, permanecendo por um ano. 
Chegou com somente 23 anos, ficou maravilhado com a natureza exuberante e com as cidades, com o objetivo de registrar aspectos exóticos, diferentes e pitorescos.
De volta a Áustria  Ender acompanhou o Imperador Francisco I em sua viagem a Itália, logo após sua volta, em 1819, foi agraciado com uma bolsa de estudos concedida pela Academia de Viena, para estudar por quatro anos na cidade de Roma. Tornou-se membro artístico da Academia em 1829. Voltou a acompanhar o imperador, agora na região da Criméia em 1837. Em 1850, por mudanças no panorama político, perdeu todo o apoio. Faleceu em Viena, onde nascerá em 28 de setembro de 1875.



Aqui no Brasil, Thomas Ender fez seu trabalho, pintou inúmeras espécies de plantas para a missão cientifica, mas pintou também, e principalmente, a escravidão. De certa forma, mostrava sua indignação ao retratar cenas do cotidianos dos escravos, como a representação que compões a prática do comércio de escravos, ao representar uma escrava tendo os dentes observados por possíveis compradores. Dessa forma muitas foram as pinturas feitas por Ender sobre a escravidão, compondo imagens sobre o cotidiano dos cativos. Como na representação ao lado, mais ligada ao nosso tema: a capoeira. Em que retrata uma cena onde dois carregadores negros são representados, um deles, leva consigo um berimbau. Vale lembrar duas coisas, primeiro que o berimbau ainda não esta associado, como hoje o fazemos, a capoeira; e segundo, o cesto que leva na cabeça o tocador de berimbau era chamado na época de capoeira.
Enfim, no período que esteve por aqui, produziu inúmeros registros sobre o cotidiano da pessoas, do trabalho, as cidades, a natureza da região entre São Paulo e Rio de Janeiro, foram mais de 800 desenhos e esboços.


A obra em questão: Vista da rua principal do Rio de Janeiro, Lápis, aquarelado, 204 x 277 mm.


Importante é conhecer como funcionava o trabalho desses naturalistas. Eles aqui vinham para catalogar, ou melhor, levantar o maior número de dados possíveis sobre a flora, a fauna e os tipos humanos. Algo comum para os cientistas da época, dentro deste trabalho, existia os pintores que eram responsáveis por criar imagens daquilo que fora visto pelos membros da expedição. Isso levou a uma grande confusão, fazendo por muito tempo, que a sociedade ao ver estas imagens, como a Vista da rua principal do Rio de Janeiro, postada logo acima, fossem entendidas como uma cópia da realidade. Ou melhor, ao ver essa pintura as pessoas diziam: olha como era antes! Pois bem, sem desmerecer o trabalho do artista, nem mesmo, desmerecer a importância como documento, como registro de uma época, essas obras oitocentistas sobre o Brasil são mais uma visão do estrangeiro, do que uma copia da realidade. Elas foram compostas. Thomas Ender, fez inúmeros desenhos, ou melhor, esboços sobre o que via e depois, somente depois de ter voltado para Viena na Áustria, reuniu esses esboços e compôs as imagens atribuídas ao Brasil e seus habitantes.

Sabido disso, encontramos mais um registro da pratica da capoeira nos inicio do século XIX. Na Vista da rua principal do Rio de Janeiro, o artista representa a capoeira. Olhando para a imagem, aqueles que pouco conhecem os movimentos da capoeira, talvez não se familiarizem logo de cara. Mas são dois negros praticando a capoeira. Podemos comprovar essa tese, fazendo uso dos esboços que Ender levou para Áustria, e hoje estão sobre a proteção do Museus de Belas Artes de Viena.

Veja o esboço que encontramos neste arquivo. Perceba que leva o titulo de Estudos sobre atitudes: capoeira.

Gravura:Titulo CAPOEIRADigital:icon395061_73v_238.tifAutor/Criador:Ender, Thomas, 1793-1875.Título:[Estudos de atitudes: capoeira.]Data:[18--].Em:-Thomas Ender -Procedente do Gabinete de Gravuras do Museu de Belas Artes de Viena.

Detalhe da Vista da rua principal do Rio de Janeiro.
Os gestos representados no esboço foi incorporado a Vista do rua principal do Rio de Janeiro. Mas veja, não estou dizendo que Thomas não tenha visto a capoeira por aquelas ruas, pelo contrário, sua obra é uma evidencia de que isso era comum naquela época.

Portanto, encontramos mais uma evidência da existência da capoeira. 

ESBOÇOS da movimentação da capoeira:





quinta-feira, 9 de outubro de 2014

10º Encontro Nacional de Capoeira Angola - Novembro em Piracicaba/SP

Mestre Zequinha promove o 10º Encontro Nacional de Capoeira Angola de Piracicaba/SP, e convida a todos os amantes da Capoeira Angola a participar desse grande e importante encontro.


Programação: 

15 de Novembro, Sábado das 14h às 18h, Ginásio do SESC, e depois, a confraternização será em uma chácara. Grátis.


16 de Novembro, Domingo - Roda de encerramento. Local: Casa do Povoador -Rua do Porto, nas margens do meu doce Rio Piracicaba. Grátis.




Mestre Zequinha manda avisara que nesse ano e pela primeira vez, a oficina com os Mestres terá um custo de 50,00 reis, vagas somente para primeiras 20 pessoas. Procure pelo Mestre Zequinha nas redes sociais.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Vivência de Capoeira Angola - Setembro em Florianópolis - Imagens

Nos dias 26,27 e 28 do mês de setembro, Mestre Jogo de Dentro esteve na primeira Vivência de Capoeira Angola do grupo Semente do Jogo de Angola em Florianópolis e sob a coordenação dos alunos Pedro e Difunto. 

A cerca de dois meses atrás, foram iniciadas as atividades do núcleo Florianópolis  localizado no bairro do Campache, e já podemos afirmar que é um sucesso. Em pouco tempo, o novo núcleo foi acolhido pela comunidade e suas atividades já começam a render frutos! 

O evento realizou no dia 26 (primeiro dia), no espaço do Mestre Habibis do grupo Cordão de Outro, uma oficina de berimbau. Já os outros dois dias, as atividades ocorreram no espaço do Semente no bairro Campeche.

Fiquem com as imagens do evento:

DIA 26/09/2014:






DIA 27 e 28/09/2014:



quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Brasil, folclore para turista (1963) - Yves Rudner Schmidt


Esta obra: Brasil, folclore para turista de 1963 foi escrita por Yves Rudner Schmidt, um musicista e folclorista da época, em comemoração ao IV Jogos Pan-americanos, ocorrido no mesmo ano da publicação da obra, na cidade de São Paulo. Eram os tempos da guerra fria, e o livro foi lançado um ano após a crise dos mísseis em Cuba, ou ainda, um ano antes do golpe militar de 1964 no Brasil. Em meio as turbulências da política nacional e da política internacional, Yves se debruçou sobre a cultura brasileira e realizou, uma representação da mesma para que os brasileiros e para os possíveis visitantes estrangeiros aos jogos, se familiarizassem com o folclore do país sede do evento. 


O Autor: Yves Rudner Schimidt (1933 - )


Nascido em julho de 1933, na cidade de Taubaté/SP, Yves Rudner Schmidt se formou no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Mais tarde veio a fundar a Associação Brasileira de jovens compositores de São Paulo, no qual foi seu diretor.
Atuou como compositor de trilhas sonoras para cinema e peças teatrais. Sua carreira como compositor foi repleta de realizações e prêmios como reconhecimento da qualidade de seu trabalho. Atuou também, nos estudos sobre o folclore brasileiro: foi membro da Comissão Paulista de Folclore, do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade; ganhou a Medalha Sylvio Romero pela Secretária Geral da Educação e Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro, por ocasião das comemorações do Décimo aniversário da Comissão de Folclore. Ainda, dentro desta área, em 1963, lançou seu primeiro livro: Brasil - Folclore para turistas, pela editora Aquila S/A. Nos anos seguinte, atuou dentro da música e dentro das idéias sobre o folclore brasileiro. Para maiores informações, se pode consultar o único site que encontrei sobre o Yves Rudner Schumidt



A Obra: Brasil, folclore para turista (1963).

A obra Brasil - Folclore para turista está mais para um pequeno dicionário de aspectos folclóricos da cultura brasileira, com o objetivo de ilustrar nossa cultura para turistas que visitassem o Brasil durante o IV Jogos Pan-americanos de 1963. São inúmeros os verbetes sobre danças e músicas (Frevo, Moçambique e Anu), brincadeiras infantis (Ciranda), lendas (Saci, Mula sem cabeça, Bôto, …) e o jogo da capoeira, todos relacionados a aspectos culturais legados pelas indígenas, negros e do colonizador português.
Um aspecto interessante da obra é ela ser bilingüe, em português e em inglês. Mas, vejamos quais as idéias sobre a capoeira que ficaram impressas nesta obra.
Logo de inicio, para Yves, a Capoeira seria africana e teria vindo para o Brasil junto com os escravos: "Com a chegada dos escravos negros de Angola (Bantus), foi introduzida pelos mesmos a capoeira no Brasil". E ainda, que a capoeira na sua formação é um jogo, em que os participantes se manifestam por gestos, por expressões corporais sempre prescindindo das cantigas. Ou melhor, nas próprias palavras do autor é uma pantomina! Para o autor, me parece que o aspecto de luta não faz parte da capoeira, sendo ela, tão somente uma mímica.
Interessante é a descrição sobre a contribuição musical, principalmente da Bahia, para a composição da bateria com a introdução de instrumentos como o caxixi, o reco-reco e o pandeiro. Menciona-se a troca do uso do berimbau (para ele também o principal instrumento da roda de capoeira) de boca pelo berimbau de barriga, comumente usado nas rodas de hoje. Sobre os capoeira da década de 1960, o autor menciona que ela é usada para se exercitar de forma amistosa, no entanto, "muitas vezes serve de arma de malandro". 
Por fim, faz uma descrição de como o jogo da capoeira se dá: menciona as cantigas, o inicio do jogo, os movimentos e o fato, de os jogadores, usarem roupas brancas e mesmo, depois do jogo, "não encontramos uma sujeirinha siquer em seus ternos brancos".


Fiquem com a digitalização dos originais da obra: