Esta obra foi escrita por Alexandre José de Melo Morais Filho (1844-1919), publicada originalmente em 1895 e diversas vezes reeditada. Esse trabalho de Morais Filho faz um denso levantamento etnográfico e traz entre as manifestações populares descritas em "Tipos de Rua", o capoeira com o texto: Capoeiragem e Capoeiras Célebres (Rio de Janeiro).
Dividido em
duas partes, primeiro caracteriza a capoeira no Rio de Janeiro. Em segundo compara uma capoeira
antiga com a do seu tempo. E também, realiza uma linda narrativa das façanhas
de Manduca da Praia.
O Autor: Alexandre José de Melo Morais Filho (Salvador, 23 de Fevereiro de 1844 — Rio de Janeiro, 1 de Abril de 1919).
As poucas biografias definem
Melo Morais Filho como um poeta, prosador, historiógrafo ou etnólogo, só para
mencionar algumas. Talvez cronista e folclorista sejam as mais adequadas. Nasceu
em Salvador, quando criança a sua família passou por problemas econômicos e teve
de lutar para realizar seus estudos preliminares. Mais tarde se matriculou no
Seminário São José do Rio de Janeiro chegando a receber ordens menores. Foi
enviado para ordenar padre na Bahia e nesse tempo, entrou em contato com políticos,
literatos e como mencionou Sílvio Romero “meteu-se nas Repúblicas de
Estudantes, na literatura, e deixou de tomar as ordens de presbítero”.
Capanga eleitoral |
Voltou para o Rio de
Janeiro, procurou viver da literatura e do jornalismo, chegou a ir à Londres
para redigir o Eco Americano. Estando no velho mundo e com o fim do periódico,
Melo Morais Filho cursou medicina na Bélgica. Voltou ao Brasil e tornou a
literatura seu vicio. Começou com o jornalismo, mas depois passou a publicar
obras referentes ao Brasil. Escreveu poesias e fez densas contribuições no
campo etnográfico, representado aqui na obra aqui apreciada.
A Obra: Capoeiragem e Capoeiras Célebres (Rio de Janeiro)
O texto foi dividido em
duas partes, sendo a primeira uma caracterização da capoeira no Rio de Janeiro
como sendo parte formadora da identidade nacional. No segundo tempo, o autor
procura desconstruir o lado negativo da capoeira, comparando uma capoeira
antiga com a do seu tempo. E também, realiza uma linda narrativa das façanhas
de Manduca da Praia.
Para nosso autor a capoeiragem
resultou da imigração africana e da mestiçagem e afirma ser, a capoeira, era uma
luta nacional. Perseguida é claro, mas uma luta nacional de destreza e força
como eram também, em Inglaterra os remadores e os jogadores de soco, em
Portugal os jogadores do pau e em França a savate.
Interessante notar, que para
o autor, essas habilidades atléticas demonstrariam e definiriam traços da fisionomia
nacional de cada povo. Melo é de um tempo que se discutiu muito sobre a
formação da nacionalidade brasileira, suas origens, as contribuições dos vários
grupos que aqui estavam ou foram trazidos com a colonização. Uma visão
evolucionista em que procura o lugar do brasileiro, seu estagio de evolução diante
das referencias europeias. Superamos isso!!
Mas, pelo jeito do texto,
para Melo a capoeira era algo positivo e que nos igualava a outras nações europeias.
No texto, ele passa a falar sobre o capoeira, de sua destreza, força muscular,
agilidade, das armas que o “tipo” carregava e da presença dos capoeiras na
polícia, como também acontecia com os boxers na Inglaterra. Continua, pois
narra a organização das maltas de capoeiras, de seus trajes. Menciona o gingado
e a típica desconfiança: sempre na defensiva. Fala ainda, algo sobre a capoeira
mais antiga e descreve alguns movimentos típicos.
Eu os convido a ler todo o
texto, mas a segunda parte me pareceu mais interessante. Pois, de certa
forma, Melo Morais Filho além de mencionar a participação de capoeira em
processos eleitorais, na guerra do Paraguai, condena um lado negativo da
capoeira como desordens, homicídios dizendo que não existiam capoeiras desde
1870. Pois o capoeira seria um trabalhador, homem de família, não um gatuno. O
autor lapida positivamente a capoeira para a composição dos nossos genes (seria
formadora do caráter do povo brasileiro). Por isso, fala de uma capoeira mais
antiga e do bem.
Lamenta, portanto, nessa
parte, certa degeneração da capoeira. Mas faz uma linda narração sobre as
façanhas de Manduca da Praia. Não conto mais nada, vale a pena ler.
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