Antes de continuarmos com Waldeloir Rego, vamos fazer uma pausa e apreciar as palavras sobre cantos da capoeira retiradas da obra de n. 03 da coleção Recôncavo, "Jogo da Capoeira" de 1951. Ela foi escrita, e contêm 24 desenhos, por Carybé. Obras que iremos explorar em outros momentos, mas por enquanto vamos ao estudo dos cantos. Nesta obra Carybé transcreve um conta que demonstra bem a questão do diálogo indicado por Valdeloir.
Segundo a obra, a Bahia teria contribuído muito com a parte musical introduzindo instrumentos, mas também inventou cantigas e deu regras ao jogo:
"A Bahia muito contribuíu, na parte musical, introduzindo o pandeiro, o caxixi e o réco-réco,em substituição das palmas; e o berimbau de barriga com corda de aço, com voz mais sonora e muto mais recursos que o de bôca.
Inventou cantigas e deu regas ao jôgo que começa com as chulas de fundamento tiradas pelo mestre:
Sinhazinha que vende ai?
Vendo arroz do Maranhão
Meu sinhó mandô vendê
Na terra de Salomão.
Aruandê
O coro responde:
ê, ê
Aruandê
Camarado
Galo cantô
ê, ê
galo cantô
Camarado
Cocôrocô
ê, ê
cocôrocô
Camarado
Goma de engomá
ê, ê
goma de engomá
Camarado
Ferro de matá
ê, ê
ferro de matá
Camarado
É faca de ponta
ê, ê
faca de ponta
Camarado
Vamos embora
ê, ê
vamos embora
Camarado
Pro mundo afóra
ê, ê
pro mundo afóra
Camarado
Dá volta ao mundo
ê, ê
dá volta ao mundo
Camarado
(...)
Muitas das chulas de fundamento contam façanhas e feitos dos mestres que têm assim trovadores cantando suas glórias, não na voz lânguida dos aludes mas no som rouco dos berimbaus e na pancada do caxixi.".
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