sexta-feira, 14 de junho de 2013

Festas e tradições populares do Brasil (1895) - Melo Morais Filho

Esta obra foi escrita por Alexandre José de Melo Morais Filho (1844-1919), publicada originalmente em 1895 e diversas vezes reeditada. Esse trabalho de Morais Filho faz um denso levantamento etnográfico e traz entre as manifestações populares descritas em "Tipos de Rua", o capoeira com o texto: Capoeiragem e Capoeiras Célebres (Rio de Janeiro).
Dividido em duas partes, primeiro caracteriza a capoeira no Rio de Janeiro. Em segundo compara uma capoeira antiga com a do seu tempo. E também, realiza uma linda narrativa das façanhas de Manduca da Praia.

Autor: Alexandre José de Melo Morais Filho (Salvador, 23 de Fevereiro de 1844 — Rio de Janeiro, 1 de Abril de 1919). 

As poucas biografias definem Melo Morais Filho como um poeta, prosador, historiógrafo ou etnólogo, só para mencionar algumas. Talvez cronista e folclorista sejam as mais adequadas. Nasceu em Salvador, quando criança a sua família passou por problemas econômicos e teve de lutar para realizar seus estudos preliminares. Mais tarde se matriculou no Seminário São José do Rio de Janeiro chegando a receber ordens menores. Foi enviado para ordenar padre na Bahia e nesse tempo, entrou em contato com políticos, literatos e como mencionou Sílvio Romero “meteu-se nas Repúblicas de Estudantes, na literatura, e deixou de tomar as ordens de presbítero”.


Capanga eleitoral
Voltou para o Rio de Janeiro, procurou viver da literatura e do jornalismo, chegou a ir à Londres para redigir o Eco Americano. Estando no velho mundo e com o fim do periódico, Melo Morais Filho cursou medicina na Bélgica. Voltou ao Brasil e tornou a literatura seu vicio. Começou com o jornalismo, mas depois passou a publicar obras referentes ao Brasil. Escreveu poesias e fez densas contribuições no campo etnográfico, representado aqui na obra aqui apreciada.

A Obra: Capoeiragem e Capoeiras Célebres (Rio de Janeiro)

O texto foi dividido em duas partes, sendo a primeira uma caracterização da capoeira no Rio de Janeiro como sendo parte formadora da identidade nacional. No segundo tempo, o autor procura desconstruir o lado negativo da capoeira, comparando uma capoeira antiga com a do seu tempo. E também, realiza uma linda narrativa das façanhas de Manduca da Praia.

Para nosso autor a capoeiragem resultou da imigração africana e da mestiçagem e afirma ser, a capoeira, era uma luta nacional. Perseguida é claro, mas uma luta nacional de destreza e força como eram também, em Inglaterra os remadores e os jogadores de soco, em Portugal os jogadores do pau e em França a savate.

Interessante notar, que para o autor, essas habilidades atléticas demonstrariam e definiriam traços da fisionomia nacional de cada povo. Melo é de um tempo que se discutiu muito sobre a formação da nacionalidade brasileira, suas origens, as contribuições dos vários grupos que aqui estavam ou foram trazidos com a colonização. Uma visão evolucionista em que procura o lugar do brasileiro, seu estagio de evolução diante das referencias europeias. Superamos isso!!

Mas, pelo jeito do texto, para Melo a capoeira era algo positivo e que nos igualava a outras nações europeias. No texto, ele passa a falar sobre o capoeira, de sua destreza, força muscular, agilidade, das armas que o “tipo” carregava e da presença dos capoeiras na polícia, como também acontecia com os boxers na Inglaterra. Continua, pois narra a organização das maltas de capoeiras, de seus trajes. Menciona o gingado e a típica desconfiança: sempre na defensiva. Fala ainda, algo sobre a capoeira mais antiga e descreve alguns movimentos típicos.
Eu os convido a ler todo o texto, mas a segunda parte me pareceu mais interessante. Pois, de certa forma, Melo Morais Filho além de mencionar a participação de capoeira em processos eleitorais, na guerra do Paraguai, condena um lado negativo da capoeira como desordens, homicídios dizendo que não existiam capoeiras desde 1870. Pois o capoeira seria um trabalhador, homem de família, não um gatuno. O autor lapida positivamente a capoeira para a composição dos nossos genes (seria formadora do caráter do povo brasileiro). Por isso, fala de uma capoeira mais antiga e do bem.

Lamenta, portanto, nessa parte, certa degeneração da capoeira. Mas faz uma linda narração sobre as façanhas de Manduca da Praia. Não conto mais nada, vale a pena ler.

 

 

 

 

 

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Semeando 2013-14 

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